15 de novembro de 2010

Vaias da música popular

Principalmente durante os anos 1960, a vaia se tornou protagonista de muitas apresentações de músicos brasileiros. A plateia - por um bom tempo - sentia-se na obrigação de deixar claro que fazia parte da apresentação. Muitos shows tiveram público mais apaixonado do que clássicos de futebol. Não se safaram sequer Chico Buarque, Caetano Veloso, Tom Jobim, Gilberto Gil e outros nomes que hoje soam intocáveis. São boas histórias que mostram um tempo em que a ideologia vinha acima do bom-senso. Será que não repetimos a mesma falta de noção ao torcer o nariz pra muitos músicos atuais?

Uma das mais célebres foi a vaia que Tom Jobim e Chico Buarque tomaram no Maracanãzinho. Tom  suportou exatos 23 minutos de vaias durante a apresentação de Sabiá, na fase eliminatória do 3° Festival Internacional da Canção. A plateia de 20 mil pessoas que lotava o ginásio considerava a canção alienada. Quase todos torciam por Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, a politizada canção de Geraldo Vandré.
Vandré tenta acalmar a plateia

O co-autor de Sabiá, Chico Buarque, escapou dos apupos por estar em turnê pela Europa. Na finalíssima, entretanto, teve que encarar a multidão. E suportar mais vaias, que calaram as intérpretes Cynara e Cybele. Ao fim da apresentação, Geraldo Vandré tomou as dores dos adversários e, ao microfone, proferiu uma de suas últimas frases em público durante muitas décadas. “A vida não se resume a festivais!”, bradou à plateia.

Contrariando a preferência popular, Sabiá foi a vencedora. E logo seria adotada como uma espécie de hino da saudade dos exilados políticos: Vou voltar / Sei que ainda vou voltar / Para meu lugar

Veja, abaixo, a intervenção de Geraldo Vandré - não registrada em vídeo. E, na postagem anterior, a vaia recebida pelo quarteto Chico, Tom, Cynara e Cybele. Não se deixe levar pela edição da Globo, que mostra um monte de gente com cara satisfeita. A vaia foi uma das mais feias da história dos festivais.

Nenhum comentário: