21 de janeiro de 2010

O cantor das despedidas

Após décadas de sucesso nacional, nos anos 1960 Sílvio Caldas resolveu se afastar da música. Anunciava: “Esta é a minha última apresentação”, e fãs às lágrimas exigiam que mudasse de ideia. E mudava. De tanto a situação se repetir, ganhou a alcunha de “cantor das despedidas”.
Não era o único apelido que lhe acompanharia na carreira. Nos anos 1930, começou a emplacar nas rádios suas serestas. Ficou conhecido como “o seresteiro do Brasil”. A voz forte, porém claríssima e despojada, também seguia por outros ritmos. Em samba poucos chegaram em seu nível.

Escolhia compositores a dedo: Ary Barroso, Noel Rosa, Braguinha, Wilson Batista. Com Orestes Barbosa, o mais constante parceiro, compôs Chão de Estrelas. Ainda que com letra difícil, a canção caiu no gosto do público: Tu pisavas nos astros distraída / Sem saber que a ventura desta vida / É a cabrocha, o luar e o violão. Manuel Bandeira considerava este o verso mais belo da língua portuguesa.

Durante anos, a dúvida pairou. Afinal, quem era melhor: ele, Chico Alves, Orlando Silva ou Carlos Galhardo? Até hoje, com a distância devida, é difícil responder. O fato é que, entre os quatro, foi o que teve carreira mais longa. Foram 65 anos como profissional, marca nunca alcançada por cantor algum do País.

Em 1965, mudou-se para um sítio em Atibaia, interior paulista. De lá só saía quando sentia saudade do microfone – e não foram poucas vezes. A última apresentação ocorreu em São Paulo, em 1997. Morreria no ano seguinte, ao 90 anos. Quase todos dedicados à música.

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