25 de setembro de 2007

Surpreendentemente comum

Quando soube, de manhã, quem seria o entrevistado do programa Roda Viva (da Cultura), fiquei empolgado. Era Mano Brown, líder de um grupo que é uma ilha de autenticidade entre o marasmo artístico. Genial, corajoso, diferenciado em diversos aspectos. Tinha certeza de que seria uma noite histórica. Pois bem, assisti ao programa. E me decepcionei.

A decepção maior foi com os entrevistadores. Perguntas genéricas e preguiçosas. Ecoavam de duas formas: ou demonstravam mal conhecer o entrevistado, com perguntas vazias como “qual é a solução para a violência?”, ou queriam agradar o rapper. Ao ponto de Mano Brown mostrar surpresa: “Já assisti várias vezes ao programa e sempre ‘batiam’ forte no entrevistado. Hoje estão pegando muito leve”.

Mas o entrevistado também não estava bem. Não se mostrava nem o radical de antigamente e tampouco tinha uma atitude serena. Soou comum. E, ao se tratar de Mano Brown, soar comum é bem surpreendente.

O que salvou a entrevista – por mandar pra muito longe o lugar-comum- foi uma resposta sobre como o rapper lida com seus filhos. Ele estava falando que não conheceu o pai. O jornalista Paulo Markun, mediador do programa, então perguntou: “Você tenta compensar essa falta sendo um pai presente pros seus filhos, né?! Você é um pai presente?”. Até por estímulo, a tendência era receber uma resposta positiva. Com olhar e voz firmes, Brown respondeu: “Não, sou ausente”. Houve dois segundos de silêncio no estúdio.
Excetuando essa resposta, infelizmente, foi uma noite comum. Inacreditavelmente comum.

21 de setembro de 2007

Dia histórico

Pausa musical momentânea.
Hoje, 21 de setembro de 2007, foi dada a notícia de que há um ditador a menos no poder.

Dia de festa. E de alívio.

20 de setembro de 2007

Os 10 mais (continuação)

5º - Nelson Cavaquinho



Quando aquela voz característica começa a ecoar, é impossível não saber de quem se trata. O canto rascante, rouco e amargurado é o retrato fiel da obra de Nelson Cavaquinho. Dadas a desilusões amorosas e desesperança na vida, suas canções são sem paralelo na história da música popular. De uma simplicidade musical – e de vida – impressionante. Nelson era craque da boêmia. Do desapego material. Do medo e da alegria. Dos sentimentos nobres e baixos. Para ser sincero, é difícil falar sobre o compositor. Possivelmente é o personagem mais complexo da nossa música. Há muito de desconhecido no subterrâneo daquele olhar profundo e carismático.

Medo da velhice e, conseqüentemente, da morte, é constante em suas músicas. Os versos que registram essa temática são vastos: “Quando o tempo avisar/ Que eu não posso mais cantar/ Sei que vou sentir saudade/ Ao lado do meu violão/ Da minha mocidade” (Folhas Secas); "Sei que estou/ No último degrau da vida, meu amor/ Já estou envelhecido, acabado/ Por isso muito eu tenho chorado" (Degraus da Vida); "Sempre só/ E a vida vai seguindo assim/ Não tenho quem tem dó de mim/ Estou chegando ao fim" (Luz Negra); "O meu pecado foi querer na minha mocidade/ Amar muitas mulheres/ O tempo já passou/ Eu sinto saudade" (O Meu Pecado).

Teve seu momento de criação mais intensa quando se juntou a Guilherme de Brito. Um tipo totalmente contrário a Nelson. Casado com uma única mulher a vida inteira, fiel, pouco dado a boêmias. Desta parceria inusitada, nasceu o verso mais bonito da história musical, feita pelo Guilherme. A famosa “Tire seu sorriso do caminho que quero passar com a minha dor”, de A Flor e o Espinho.

Mas há um outro verso, impressionantemente irônico, triste e exato, que sintetiza sua vida: “Feliz daquele que sabe sofrer”, da música Rugas. Por estas linhas, podemos suspeitar que Nelson, afinal, era uma pessoa feliz. À sua maneira.